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Sindicatos estão perdendo suas bases

Falta de organização e conjuntura política dificultam relação entre dirigentes e trabalhadores

Publicado: 21 Novembro, 2016 - 11h06

Escrito por: Manoel Ramires

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A organização da base também deve promover trabalho intenso de formação

Um dos maiores desafios do sindicalismo é reconquistar sua base de trabalhadores. Nos últimos anos, sob o governo do PT, a organização sindical ligada a Central Única dos Trabalhadores (CUT) foi aos poucos deixando de se organizar para obter conquistas e garantir direitos. Entre os especialistas, o “abandono” se deu porque a negociação entre centrais e governo federal era amistosa. Os governos petistas, principalmente do presidente Lula, trouxeram grandes ganhos salariais a massa trabalhadora brasileira. Em 2004, por exemplo, 79% das negociações salariais trouxeram reajustes iguais ou superiores às variações acumuladas do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), de acordo com o Dieese. Percentual bem diferente de 2016, sob o governo não eleito de Michel Golpista. Neste ano, apenas 24% das unidades de negociação analisadas pelo Dieese conquistaram ganhos reais aos salários.

Por outro lado, um sindicato forte não se sustenta apenas de suas negociações salariais. Ele se estrutura em uma base sindicalizada e com representação nos locais de trabalho. Essa relação entre direção sindical e trabalhadores é fundamental para manutenção de direitos e denúncia de irregularidades, como aponta o especialista José Cláudio de Brito. Para ele, a representação dos trabalhadores no local de trabalho (RLT) é entendida como o “conjunto de meios destinados à discussão e manifestação dos empregados no local de trabalho, tendo em vista o desenvolvimento de entendimentos com o empregador destinados à efetivação ou à reivindicação de direitos e deveres”.

Para Archimedes Felício Lazzeri e Martinho da Conceição, organizadores do livro “Trabalho de base, organização e formação no local de trabalho”, que é utilizado nas formações da CUT, “todas as formas de organização e representação no local de trabalho devem responder às necessidades dos trabalhadores e trabalhadoras, seja em relação a processos e controles do trabalho, direito à informação e negociação, mudanças organizacionais, ritmo de trabalho, qualificação profissional, saúde do trabalhador ou sobre a igualdade e equidade nas relações de gênero, raça e geração”.

Para eles, portanto, a organização por local de trabalho é fundamental para fortalecer dois pontos: 1º) A organização e representação sindical no local de trabalho pode ser um instrumento para fiscalizar acordos e democratizar as relações de trabalho; 2º) O local de trabalho é um espaço privilegiado para afirmar ideias, valores e atitudes sobre democracia direta, cooperação e solidariedade.

Por outro lado, para que a organização de base funcione bem, é necessário que as direções sindicais não hierarquizem as decisões. Para Archimedes Felício Lazzeri e Martinho da Conceição, é preciso avaliar se as responsabilidades estão sendo compartilhadas adequadamente, ou, se está hierarquizando as tarefas atribuídas aos dirigentes, como se fossem dois grupos distintos, duas direções, os liberados e não liberados. “Em casa de ferreiro o espeto não precisa ser de pau. Pois, sabemos que não há mobilização sem trabalho de base, sem aquela conversa com companheiros e companheiras, sem organização para enfrentar o assédio, as condições inseguras e penosas”, alertam.

Desafio

O grande desafio do trabalho de base, do dirigente que atua no local de trabalho, diz respeito ao ato de criar as condições para que os seus companheiros e companheiras de trabalho possam enxergar a realidade com os seus próprios olhos.

A conscientização das direções sobre a realidade e sobre seu papel no mundo não acontece por obra do acaso ou por doutrinação, mas de modo sistemático permanente e intencional, porque, como diz Paulo Freire, estamos sempre “em processo de acabamento”, individual e coletivamente (Trabalho de base, organização e formação no local de trabalho).

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