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Reforma política pode mudar a vida das mulheres

Organizações avançam em diálogo sobre importância de dizer sim à mudança do sistema político

Publicado: 04 Setembro, 2014 - 00h00

Em uma das salas de uma grande casa no extremo leste da capital paulista, sem letreiros e com um grande portão cinza para impea identificação de quem circula lá dentro, um grupo formado exclusivamente por mulheres reúne-se em círculo.
Ao centro, a assistente social e integrante da Marcha Mundial de Mulheres, Sônia Coelho, toca em um assunto que nenhuma delas ali jamais ouviu falar: o Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político, que os movimentos sindical e social promovem entre os dias 1º e 7 de setembro.
O local escolhido, o núcleo de defesa e convivência da mulher “Viviane dos Santos”, inaugurado em 2004, em Lajeado, durante a gestão da prefeita Marta Suplicy (PT), não poderia ser mais apropriado.
Além de dar suporte à mulher vítima de violência, a casa também discute a formação de cidadãs e, para isso, aposta em bate-papos sobre políticas da maneira mais popular possível. Como bem define Quelli Rodrigues, coordenadora do lugar, a política só faz sentido quando relacionada com fatos do cotidiano.
“Muitas mulheres não sabem que sem políticos comprometidos não teremos saúde, educação, creche de qualidade. Muitas são vítimas de violência, mas não encontram atendimento psiquiátrico no SUS (Sistema Único de Saúde). Há aquelas que precisam deixar as suas casas, mas não têm acesso a programas de moradia e, sem condições financeiras, continuam dependentes do agressor. Essas mudanças passam pela mudança na política e é isso que queremos mostrar para elas”, disse.
Fruto da organização das mulheres da região durante uma década, a casa também terá uma urna para coleta de votos, mas o acesso será restrito àquelas que já são atendidas e familiares ou amigas que vierem acompanhá-las.
Um tema ainda distante
Em algumas das intervenções de Sônia Coelho ficava claro que a democracia participativa ainda é uma incógnita para a esmagadora maioria das brasileiras. Apenas uma das pessoas levantou a mão quando perguntada se alguém ali participou de conferências nacionais como a das mulheres ou se participa de conselhos.
Apenas a professora Rosineis da Silva, afasta temporariamente do trabalho, já conheceu de perto essas instâncias, mas, como a maioria dos cidadãos e cidadãs, não se sente representada pela política brasileira.
“Temos poucas mulheres no horário eleitoral e não me vejo representada nas que estão lá. Não passam verdade e nem proximidade com o povo. A propaganda é feita para induzir o eleitor e não para discutir o projeto e, por isso, o mais engraçado é o que ganha.”
“Precisamos de mais mulheres no poder sim, mas que tenham projetos e que nos representam, que sejam nossa cara”, define Rosineis.
Para ir ao encontro desse cenário, Sônia lembrou que é preciso mudar a regra do jogo e mudar o modelo atual, em que a participação da população se resume ao voto. Para piorar, as escolhas são influenciadas pelo poder econômico, já que tem mais visibilidade quem pode pagar por isso.
“O financiamento público de campanha é uma mudança fundamental para que os projetos sejam mais importantes do que os recursos para eleger um candidato. Essa é uma das propostas nossas, assim como o voto em lista definida pelo partido, com alternância entre homens e mulheres nessa relação, para que o eleitor escolha o projeto da sigla e não uma personalidade”, explicou.
Ao citar o tema da creche, tão caro para as mulheres da região, Sônia deu uma demonstração clara de como a política afeta a vida da mulher.
“A falta de recursos para creche tem relação com a vontade política. A elite não está preocupada com educação pública, até porque, muitos dos parlamentares no Congresso foram eleitos com recursos e para defender os interesses das instituições de ensino privado”, explica.
Segundo ela, é justamente a creche que vai garantir menor rotatividade e maior possibilidade de ascensão para as mulheres trabalhadoras.
Sônia garante que diante da resistência da velha mídia em tratar do tema, a alternativa é ir direto às bases em defesa do plebiscito.
“Nada melhor do que vir aos bairros e conversar com as mulheres, ouvir a opinião. Uma das coisas que dissemos desde o princípio era a importância do processo de discussão sobre o sistema político brasileiro e como poderíamos acumular forças para fazermos essa mudança. Vivemos uma situação em São Paulo em que pessoas não sabem qual a responsabilidade de um governador e não fazem relação entre decisões dele e a falta de água, de creche, a má qualidade da educação, do transporte. As pessoas não conseguem correlacionar, até porque há um bloqueio na imprensa”, criticou.
Fonte: SINDSEP