MENU

Mais de 60 mil ocupam Praça da Sé de SP contra o golpe

Protestos foram em defesa da democracia e contra as ameaças aos direitos sociais conquistados nos últimos.

Publicado: 01 Abril, 2016 - 14h31

Escrito por: CUT SP

Ricardo Stuckert/ Instituto Lula
notice
Imagem aérea da manifestação na Capital do Estado de São Paulo

A Praça da Sé, ocupada por mais de 60 mil pessoas nesta quinta-feira (31), foi palco de ato político e cultural em defesa da democracia. Pessoas das mais diferentes regiões do Estado de São Paulo responderam, mais uma vez, que não será tolerado o golpe que está em articulação pelos setores conservadores do Brasil, querendo impedir o mandato da presidenta Dilma Rousseff.

Com início às 16h, o ato “Em Defesa da Democracia e Contra o Golpe” foi organizado pela Frente Brasil Popular, que reúne mais de 60 entidades dos movimentos sociais e sindical, e Frente Povo Sem Medo. Ao longo de todo evento, apresentações culturais foram intercaladas com falas políticas.

Os movimentos que foram às ruas defenderam outras bandeiras, como as dos direitos sociais, e estavam contra o ajuste fiscal e a reforma da previdência e pediam outra política econômica.

A parte musical ficou por conta dos grupos Trio Alvorada, Mistura Popular, Sinhá Flor e Liga do Funk, que incluíram em seus repertórios canções populares, muitas lançadas no período da ditadura militar como forma de protestos.

Neste 31 de março também foi lembrado que há 52 anos o Brasil sofreu um golpe militar, período mais duro e repressivo do país. Já a Praça da Sé, local escolhido para o ato desta quinta, foi palco de um dos momentos políticos mais importante do Brasil, as Diretas Já, que pediu, em 1984, eleições presidenciais diretas.

Durante sua fala, o presidente da CUT São Paulo e coordenador da Frente Brasil Popular São Paulo, Douglas Izzo, informou que as mobilizações desta quinta ganharam dimensões internacionais, citando os atos que ocorrem em cidades como Londres, Paris, Montevideu e Buenos Aires.“Aqui, neste país, tem um povo que é de luta, que é da cidade e do campo. E está hoje na Praça da Sé, no Brasil e no mundo, defendendo a democracia e a luta da classe trabalhadora”.

Lembrou que os próximos dias serão decisivos para o futuro do país e que, por isso, a agenda de luta deve ser diária. “É importante a gente procurar cada deputado [federal] no Estado de São Paulo e convencê-lo a votar contra o impeachment da presidenta, pois não existe nenhum argumento para esse processo seguir adiante”.

Presidenta da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes), Ângela Meyer, lembrou que foram os militantes das entidades presentes no ato de hoje que lutaram e morreram para conquistar a democracia vigente no país. “Que fez a gente ter direito de ocupar qualquer espaço público para dar a nossa opinião”. Ela diz que os mesmos movimentos irão resistir e lutar. “Não deixaremos acontecer esse projeto político dos golpistas e o que ele representa. Aqui em São Paulo [com o governo do PSDB] já vivemos na pele as consequências desse projeto, que não tem prioridade ao povo”.

Raimundo Bonfim, coordenador da Central de Movimentos Populares (CMP), reforçou a importância das mobilizações, contando que a Frente Brasil Popular tem criado vários comitês contra o golpe pela cidade.

O vice-presidente da CTB, Nivaldo Santana, comemorou a diversidade de bandeiras e pautas que estavam presentes, assim como a unificação de muitos movimentos para combater as ameaças da direita. “É muito bom ver essa ampla mobilização democrática que se unifica num momento decisivo da história do nosso país, em defesa do Estado Democrático de Direito”.

Em um dos momentos, o secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Eduardo Suplicy, pegou o microfone e optou por fazer uma canção, convidando todos para acompanhá-lo em “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré. A multidão, emocionada, cantou minutos depois o Hino Nacional Brasileiro.

Representações
Durante o ato, várias personalidades de diferentes segmentos, da política, das artes e dos movimentos populares, se revezam ao microfone para transmitir suas mensagens. A cartunista Laerte chegou em marcha com um grupo de escritores segurando uma faixa com a escrita “Não ao golpe!”. Em cima do caminhão, ela leu trecho do Manifesto dos Escritores e Profissionais do Livro Pela Democraciaque reúne o apoio de grandes intelectuais brasileiros.

Integrantes do Coletivo Democracia Corinthiana, um dos maiores movimentos políticos da história do futebol, também marcaram presença e convidaram torcedores de outros times a se unirem contra a tentativa de interrupção do processo democrático do Brasil. “A gente participou do movimento das Diretas. Enquanto atletas e cidadãos contribuímos para reestabelecer o Estado de Direito e hoje a gente volta com esse objetivo, o de continuarmos com o direito de eleger os nossos mandatários”, disse o ex-jogador Wladimir dos Santos.

Representantes de diferentes religiões fizeram falas mostrando-se preocupados com o momento político. O presidente do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil, Dom Flávio Irala, disse que as igrejas cristãs ecumênicas estarão juntas na luta contra o retrocesso. “Venho reafirmar a defesa pela democracia e o nosso protesto contra essa tentativa de golpe, baseado nos interesses estrangeiros e contra as conquistas sociais que nós experimentamos nos últimos anos”.

Todos unidos
O designer gráfico Norberto Arantes, de 55 anos, veio de Santos, no litoral, participar da manifestação e defender o respeito a seu voto. “O que estão fazendo com a Dilma é inconcebível. Uma presidenta que não tem nenhum crime e os maiores ladrões, corruptos do Brasil, estão querendo tirá-la”.

Giorgia Goldoni é italiana, mas mora em Atibaia há quatro anos. Para ela, sair às ruas é a forma de “abrir os olhos das pessoas que só acreditam na mídia”, por isso fez questão de se somar aos manifestantes. “Parece que estou vivendo um momento muito parecido com a Itália, na época do Berlusconi [Silvio Berlusconi, conservador e ex-primeiro ministro da Itália], em que ocorreu uma ditadura midiática muito forte”. Já passava das 21h30 quando o ato encerrou.