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Israel barra brasileiros com ascendência árabe na Palestina

CUT e entidades que compõem missão humanitária ao Estado Palestino cobrarão posicionamento do governo brasileiro

Publicado: 02 Abril, 2015 - 00h00

Após mais de 30 horas de uma viagem que partiu de Túnis e passou por Dubai e Amã, a delegação brasileira em missão humanitária à Palestina chegou na noite desta terça-feira (31) – horário local – à Cisjordânia e vivenciou parte do racismo e da xenofobia impostos por Israel.
Dos 16 membros que compunham o grupo, dois foram impedidos de atravessar as fronteiras israelenses. O militante pela Frente em Defesa do Estado Palestino Mohamad El Kadri e a jornalista brasileira de origem palestina Soraya Misleh.
Os únicos dois que possuem ascendência árabe ouviram das autoridades que o visto foi negado por “razões çde segurança do Estado de Israel.” Apesar de não constar no documento entregue a eles, também foram informados que não conseguirão ingressar no país nos próximos cinco anos.
Muito emocionada, Soraya ressaltou que junto à solidariedade, também teve negado o direito de visitar familiares.
“Mais uma vez sofremos discriminação e racismo. Perguntei qual era o perigo que representava, mas não explicaram. Tenho família lá dentro da Palestina e novamente não pude vê-la. O sentimento é de tristeza e profunda indignação”, desabafou.Ela cobrou ainda que o governo brasileiro cumpra o compromisso de repudiar a ação. “Eu gostaria que fosse feito o que o governo prometeu, de denunciar caso sofrêssemos discriminação.”
Mohamad El Kadri, também tradutor de árabe para o grupo, cobra que o Estado brasileiro atue de maneira recíproca. “A postura foi agressiva, sem nenhuma acusação e o governo brasileiro deve tratar os cidadãos israelenses da mesma forma que nos trataram”, defendeu.
Apesar de não prosseguir na viagem, ele deixou uma mala com 30 bolas de futebol que serão distribuídas a crianças palestinas.
Em contato com o embaixador brasileiro no território palestino, Paulo França, a CUT ouviu que acionará o embaixador em Israel, Henrique Sardinha Pinto, em busca de providências.
Burocracia e desrespeito
A ação acirra ainda mais o clima de tensão que Israel impõe à região. Segundo relatório da Organização das Nações Unidas divulgado no último dia 27, o ano de 2014 foi aquele em que o exército israelense mais matou civis palestinos em ações militares: foram 2.314 mortos e 17.125 feridos.
O cerco à Palestina se manifesta em posturas como a premedita demora na liberação da missão que conta com a CUT e parceiros brasileiros do Comitê Internacional do Fórum Social Mundial. Foram mais de três horas de espera na fronteira, apesar do diálogo prévio e da intermediação da embaixada brasileira.
Israel ainda tenta impeque o grupo chegue à Faixa de Gaza, onde 1,8 milhão de pessoas convivem em um território de 360 km² no qual 50% das mulheres grávidas são impedidas ou limitadas em realizar o pré-natal. A região sofre ainda com apagões que duram até 18 horas por dia por conta dos bombardeios israelenses que destroem a infraestrutura local.
Primeiras impressões
Seguir pelas estradas que cortam o Estado Palestino é vislumbrar exemplos de um apartheid invisível aos grandes meios de comunicação. Além do vergonhoso muro erguido por Israel para represar a Palestina, há check points sob comando israelense que atravancam o trânsito a qualquer hora do dia.
Enquanto carros emplacados em Israel podem circular livremente, aqueles de origem palestina só andam pela Cisjordânia. As placas de trânsito no idioma árabe estão localizadas apenas na Palestina. Em Israel as opções são o hebraico e o inglês.
À beira das vias chama atenção a presença cada vez maior de assentamentos israelenses, num processo de expansão incentivado pelo governo sionista agora comandado por Benjamin Netanyahu.