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Educadores sob censura: Bolsonaro critica conteúdo do Enem

Em entrevista à TV Band, presidente eleito criticou o que chamou de “doutrinação desacerbada (sic)” em questões do Exame Nacional do Ensino Médio.

Publicado: 06 Novembro, 2018 - 14h07

Escrito por: Fetamce

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"Tem que se orgulhar e não ficar preocupado", disse sobre a filmagem de professores

Em mais um ataque à liberdade de cátedra de docentes e de estimulo à censura e ao assédio moral a professores em sala de aula, o presidente eleito Jair Bolsonaro criticou o que chamou de “doutrinação desacerbada” (sic) em questões do Exame Nacional do Ensino Médio. As provas do Enem foram aplicadas neste domingo (04) em todo o país.

Em entrevista à “TV Band”, na tarde desta segunda-feira (05), Bolsonaro disse que “é um vexame ver o que cai na prova do Enem” e defendeu que se cobre “o que tem a ver com a questão do Brasil e da cultura”. O capitão do Exército disse ainda que professores devem se orgulhar e não ficar preocupados com gravações em salas de aula.

— NÃO TENHO IMPLICÂNCIA COM LGBT, MAS UMA QUESTÃO DE PROVA QUE ENTRA NA LINGUAGEM SECRETA DE GAYS E TRAVESTIS NÃO MEDEM CONHECIMENTO NENHUM. TEMOS QUE FAZER COM QUE O ENEM COBRE CONHECIMENTOS ÚTEIS PARA A SOCIEDADE.

O presidente eleito se referia à questão número 37 do caderno de Linguagens do Enem. A questão mostra um texto sobre “pajubá, o dialeto secreto dos gays e travestis” e pergunta por que “pajubá ganha status de dialeto, caracterizando-se como elemento de patrimônio linguístico”.

Bolsonaro negou que pretenda acabar com o Enem, mas disse que seu governo não vai “ficar divagando sobre questões menores”.

– NINGUÉM QUER ACABAR COM O ENEM, MAS TEM QUE COBRAR ALI O QUE REALMENTE TEM A VER COM A HISTÓRIA E CULTURA DO BRASIL, NÃO COM UMA QUESTÃO ESPECÍFICA LGBT. PARECE QUE HÁ UMA SUPERVALORIZAÇÃO DE QUEM NASCEU ASSIM.

Ao ser questionado se concorda que alunos gravem professores em sala de aula, como sugeriu a deputada estadual eleita em Santa Catarina pelo PSL, Ana Caroline Campagnolo, Bolsonaro disse que os docentes devem se “orgulhar” e não ficar preocupados, caso algum aluno decida gravar as aulas.

— PROFESSOR TEM QUE SE ORGULHAR E NÃO FICAR PREOCUPADO. MAU PROFESSOR É O QUE SE PREOCUPA COM ISSO AÍ — DISSE.

A declaração da deputada eleita gerou repúdio de entidades de educação, entre ela a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal (Confetam/CUT). Logo após a vitória de Bolsonaro, a futura parlamentar do PSL publicou na página dela no Facebook um pedido para que estudantes catarinenses vigiem seus professores e denunciem “manifestações político-partidárias ou ideológicas”.

A Federação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal do Estado do Ceará (Fetamce) também repudiou o comportamento de Ana Caroline Campagnolo pelos ataques à liberdade de cátedra, direito previsto no Artigo nº 205 da Constituição Federal. A Carta Magna garante a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber. O mesmo princípio é reforçado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O inciso 2º do Artigo 3º da LDB fala da liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber.

Ana Caroline argumenta que, com a eleição de Bolsonaro, “professores doutrinadores estarão inconformados e revoltados” e incentivou alunos a filmarem seus educadores e mandarem o vídeo para o próprio celular da deputada, informando o nome do professor, o nome da escola e a cidade.

Após a repercussão do caso, a Justiça mandou a deputada eleita pelo PSL retirar das redes sociais as publicações que incitavam alunos fazerem os vídeos em sala de aula. Segundo a decisão, a atitude fere diretamente o direito dos alunos de usufruírem a liberdade de expressão da atividade intelectual que deve ser exercida em sala de aula independentemente de censura ou licença.

Fetamce reafirma a liberdade de ensino

A Federação afirma que atuará junto aos professores e às demais organizações de defesa da ordem democrática para combater tais absurdos. A entidade reafirma o que divulgou em nota: “Não permitam, caros educadores, que sejam gravados por ninguém, sob a simples pena de ferir seu direito à imagem. Em caso de episódios como esse ou se a sala de aula for invadida, denuncie à comunidade escolar e ao seu sindicato”.

Com informações do Jornal O Globo