Escrito por: Redação CUT

Com recorde de mortes por Covid, municípios já registram mais óbitos do que nascimentos

Problema já ocorre em 12 dos 50 municípios com mais de 500 mil habitantes. É o caso do Rio de Janeiro, Natal e São Bernardo do Campo. Porto Alegre contou 3.221 mortes em março contra 1.509 nascimentos

ALEX PAZUELLO
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Pelo segundo dia na mesma semana, o Brasil registrou mais de 4 mil mortes em decorrência da Covid-19,  um novo recorde. O drama que o país vive no pior momento da pandemia faz várias cidades registrar mais mortes  do que nascimentos nos primeiros dias do mês de abril.

No mês de março, por exemplo, o mais letal da crise sanitária até agora, morreu mais gente do que nasceu em pelo menos 12 das 50 cidades com mais de 500 mil habitantes do país― como Rio de Janeiro (RJ), Natal (RN) e São Bernardo do Campo (SP). Para efeito de comparação, em março de 2020, apenas um município havia alcançado esta proporção.

Segundo os dados do Portal da Transparência, que reúne todos os registros de nascimentos, óbitos e casamentos do país desde 2015, até quarta-feira (7) foram 34.459 óbitos registrados no sistema em março, no Sul do país, contra 34.211 nascimentos —diferença de 248 casos. Os dados foram compilados até quarta (7) e ainda podem ter atualizações.

A situação também é registrada em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, que, no mês passado, contabilizou 3.221 mortes para 1.509 nascimentos. O Estado também registrou déficit demográfico. Enquanto 11.971 bebês foram registrados, os cartórios emitiram 15.802 certidões de óbitos naquele mês, 48% delas causadas comprovadamente pela Covid-19.

Isso não acontecia desde 1979, data mais antiga dos registros do Sistema Integrado de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.

O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, um dos mais respeitados do mundo, já havia alertado para este cenário. Em entrevista ao El País, ele revelou que já há redução significativa no saldo de nascimentos no Brasil em relação a 2019 e que, em alguns estados e cidades, já há mais mortes do que nascimentos por causa da pandemia.

Em março do ano passado, por exemplo, a diferença positiva para os nascimentos era muito maior: 28.820 contra 15.762 mortes —mais de 13.000 casos. Vem sendo assim ao menos nas últimas quatro décadas, segundo dados do SIM.

Mortes em 24 horas

Nesta quinta-feira (8), foram 4.190 óbitos nas últimas 24 horas. O país também registrou 89.293 casos da doença. Com isso, já são 345.287 vidas perdidas e 13.286.324 pessoas infectadas pela Covid desde o início da pandemia.

Além dos EUA, país mais atingido pela pandemia e que tem uma população consideravelmente maior, o Brasil é o único país no mundo com registros mais regulares a atingir essa marca. O Brasil  vive uma situação crítica com a segunda onda de Covid-19, com recordes trágicos se acumulando. Este ano concentra os 32 dias com mais vidas perdidas em 24 horas. Desses, 30 dias ocorreram em março ou abril.

Outro elemento que demonstra a gravidade da situação é a média móvel de mortes, que chegou a 2.818 e completou 23 dias acima de 2.000 óbitos por dia e 78 dias acima de 1.000.

Profissionais relatam exaustão

O aumento de internações, de óbitos e casos da doença tem provocado um cansaço nos profissionais de saúde que lutam contra a Covid-19 há mais de um ano. A exaustão emocional e a falta de preparo para enfrentar a doença são a realidade dos trabalhadores e trabalhadoras da saúde que estão na linha de frente de combate ao novo coronavírus.

Relatório divulgado nesta semana pelos pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas, mostram que 80% dos trabalhadores entrevistados sentem impactos negativos na saúde mental causados pela pandemia, sendo que apenas 19% buscaram ajuda para lidar com o problema.

De acordo com a pesquisa, pouca coisa mudou na realidade destes trabalhadores. Em abril de 2020, quando a primeira rodada de perguntas foi feita, 65% dos profissionais afirmaram não se sentir preparados para enfrentar a Covid-19, porcentagem que sobe para 70% em março de 2021.

São vários os motivos que levaram os profissionais ao despreparo, como a situação política, má condução da pandemia pelo Governo Federal, o negacionismo científico, o medo de expor o vírus à família, além da falta de treinamento, equipamentos de proteção individual, vacinas e testagens. Até agora, 86,8% dos participantes do estudo relataram terem recebido a primeira dose da vacina.

Com informações de agências